Se eu pudesse um dia chegar numa automotora... Se eu pudesse, dependurava em cada janela os dias que não passei chegando, aos solavancos, namorando-te assomada numa janela. Só uma automotora, muito velha, me poderia levar de volta ao feitiço de regressar, deslizando e aos solavancos e, devagarinho, sentir o tudo aquilo que não sei, ainda hoje, descrever. Se eu pudesse, assomaria, um a um, todos esses dias na janela de uma automotora gingona de apressada, para me fazer olhar de dentro dela a minha terra. Chegaria, então, pela tardinha ou tanto faz de manhãzinha ou ao pino do meio dia, com sol ou com chuva morrinha. Assomaria no estreito da janela, os olhos pestanejando sôfregos do sal e da paisagem. Os olhos se entreabrindo, abrindo e fechando, ao ritmo do coração batendo apaixonado, calmo, sedento e sereno. Ficaria naquele quase transe de sempre, uma beatitude, um enlevo. Ela viria dançando, aproximando-se encatatória, branca, passeando-se no tapete das dunas, arrastando o manto azul d