A galinha
Foi num tempo de Verão, Agosto quente como sempre.   (O Luíz Pacheco passou uma temporada na casa do Zé. Veio descansar, escrever qualquer coisa que  apaziguasse o ânimo aceso de um editor cansado de esperar por um livro que não aparecia.)   O Luís começava o seu  dia por volta das 3 da manhã. Muitas vezes vestia o sobretudo por cima do pijama e nunca saía sem o guarda-chuva pendurado no braço. Esperava a hora de fecho das discotecas e prolongava-se em conversas com a malta que enchia as ruas a essa hora, até à abertura do Mercado. Aí gastava mais algum tempo, normalmente até às 10, quando supostamente começava a escrever…   Foi do mercado que veio a galinha. Não sei se foi um presente ou se ele a trocou por sardinhas…   Como me lembro:    5 h 30m da tarde, o Luís no seu pijama de riscas em azul e branco, sentado na cama com costas muito direitas, os olhos pequenos e vivos por detrás das lentes de míope, relaxando antes de dormir, na leitura de uma HARA KIRI .  ...