Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta lembranças

A primeira vez

Imagem
Lembro-me muito bem de onde estava e de como soube que a minha vida futura se faria em Lagos. Estava-se em 1994 e corria o mês de Maio – acho que ainda era Maio – e os resultados da primeira parte do concurso de professores estavam para sair por esses dias. Era um intervalo entre aulas na já extinta Escola Secundária Ana de Castro Osório em Setúbal e alguém entrou dizendo que os resultados já tinham saído. Era um tempo em que ainda se conseguia “efectivar”, e, pasme-se, pedir destacamentos para escolas das zonas onde se vivesse ou para onde se quisesse mudar, se fosse esse o caso. Penso que a primeira coisa que me veio à cabeça foi o ter dito várias vezes ao longo desse ano lectivo que, caso fosse à beira-mar o local onde ficasse colocado, aceitaria o lugar e me mudaria para lá. De imediato me dirigi à secretaria a saber do meu veredicto: uma das duas escolas secundárias existentes em Lagos, a 17.ª de entre as cinquenta que havia enumerado no boletim de concurso. Lembro-me de ter dito

FELIZ PÁSCOA

Andei pensando em como havia de fazer um post que fosse desta época e falasse de Lagos e lembrei-me da minha tia Constança que nesta altura do ano nos presenteava, na casa onde morávamos, ali à rua da Oliveira, com uns folares que ela amassava em alguidar de barro secundada por minha mãe que, ao que me lembro, mais não fazia que fornecer ingredientes que eram, além dos ovos e farinha, leite, que a minha tia gostava deles fofos e apaladados do leite que, ao tempo a que reporta a lembrança que vos deixo, não se vendia em pacotes, mas vinha da vaca do Senhor (o nome é que não me lembro) e era trazido à porta e medido para a cafeteira que a minha mãe levava (que era, sim, um fervedor com tampa de buracos, agora me recordo!). Bem amassada a massa, dormiam os futuros folares, toda a tarde, embrulhados em mantas depois de bentos, com cruz traçada sobre aqueles montes brancos que pareciam cús de gente, diziam elas entre dentes sorrindo que eu bem as ouvia, eu que mal me passava uma cabeça de s

a cidade do meu desejo (III)

Se eu pudesse um dia chegar numa automotora... Se eu pudesse, dependurava em cada janela os dias que não passei chegando, aos solavancos, namorando-te assomada numa janela. Só uma automotora, muito velha, me poderia levar de volta ao feitiço de regressar, deslizando e aos solavancos e, devagarinho, sentir o tudo aquilo que não sei, ainda hoje, descrever. Se eu pudesse, assomaria, um a um, todos esses dias na janela de uma automotora gingona de apressada, para me fazer olhar de dentro dela a minha terra. Chegaria, então, pela tardinha ou tanto faz de manhãzinha ou ao pino do meio dia, com sol ou com chuva morrinha. Assomaria no estreito da janela, os olhos pestanejando sôfregos do sal e da paisagem. Os olhos se entreabrindo, abrindo e fechando, ao ritmo do coração batendo apaixonado, calmo, sedento e sereno. Ficaria naquele quase transe de sempre, uma beatitude, um enlevo. Ela viria dançando, aproximando-se encatatória, branca, passeando-se no tapete das dunas, arrastando o manto azul d