A cidade do desejo

Muito antes de ser a cidade onde vivo em permanência, Lagos foi a cidade do meu desejo. Continua a sê-lo sempre que regresso (e não só) e é quando o comboio abranda nos carris e o azul intenso alaga forte de luz e aromas o lugar onde me sento, que confirmo, sem nenhuma hesitação, ser impossível não se sentir que estamos a chegar a uma cidade de desejos, e ainda que o cansaço, pela distância percorrida ou por um sono adiado, me faça do corpo um saco frouxo, ali, ele recobrará o viço no embalo lento da carruagem, num ânimo de ansiado reencontro. E tudo pode estar igual ao momento da partida, que, subitamente, tudo parecerá mais bonito, mais vivo, mais imprescindível. E é por tudo isso que eu ainda hoje (passados anos) não percebo, nem perdoo, a abstracção do casal jovem alemão que, no banco ao lado, se preparou, na última meia hora de viagem, a tomar caldos vitamínicos e se deixou ficar sem sequer ousar uma miradela furtiva pela janela. Afinal para que queriam eles redobrar de energias se nem desejar a cidade, a que estavam prestes a chegar, conseguiam?

Comentários

éf disse…
a cidade que se deseja ou a cidade que se deseja desejar.

;)
ND disse…
esta coisa do meu desejo por Lagos ultrapassa até a minha inteligência - no grau que tenha, e é melhor contar com pouco, para ser menor o rombo que isso possa causar à minha reputação - :D
é irracional, portanto.

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