BANALIZAÇÃO DA IMAGEM

photo inês cerol - grupo amigos de lagos


A interessante abordagem (ele que é um velejador)  de Francisco Castelo à fotografia, ocorrida na Biblioteca Júlio Dantas, no âmbito das 5ª feiras do Amigos de Lagos, sem ganchos de assalto porque conhecedora, sintética e concisa sem ser apressada e fugidia, procurou responder às perguntas leigas, não deixando de focar aspectos bem precisos da omnipresente implantação da imagem na vida colectiva.
Quer no seu uso como valor documental e de memória da comunidade ( a fototeca municipal) ou na alteração comportamental das pessoas cujo dia a dia, por via da foto digital, é feito da captação exaustiva e do consumo da imagem de si próprias, o animado jogo de perguntas e respostas não me deixou tempo para a pergunta que o título sugeria.
Banalização, que é muito mais que banalização. A pessoa de hoje já se habituou à permanente tomada da sua presença em espaço colectivo: quando levanta dinheiro do aparelho, quando vai às compras ao supermercado ou ao sexshop, quando feliz responde às perguntas para "povo" da televisão, (quando de férias em  praia ou em neve) , quando é apanhada pelos milhares de satélites que andam por cima de nós.
Tal como se habituou à sua imagem no espelho, já terá ela vencido o profundo ( absurdo?) receio que lhe inspirava o aparelho que a reproduz?
Não posso deixar de lembrar-me de Jorge Luis Borges: " Mirrors and faterhood are abominable" - porque reproduzem a imagem humana."


Não posso deixar de pensar na artista Eva Schultz, com atelier na rua de S.José, escorrendo para a Praça d' Armas, junto à antiga casa da água, em Lagos, que no momento de ser fotografada exclamou:" fotografia não, rouba a minha alma".

(roubo da alma, aceitação de um conceito mais amplo de "alma", indiferença pela manipulação da alma?)



photo inês silva - ccl




Comentários

Jorge Pinheiro disse…
Em África ainda é assim em muito lado. Parabéns pela conferência.
francisco disse…
“Banalização da imagem”. Uma vez que não se falou neste tema, aproveito para fazer esta reflexão que deixo aqui em jeito de opinião.
O facto da fotografia digital permitir o universalismo da prática de registo e manipulação da imagem, mormente através da crescente panóplia de dispositivos, de que o telemóvel é um exemplo, só pode constituir um aspecto positivo. Desde logo porque derruba o carácter erudito da Fotografia, colocando-a ao alcance de qualquer um. Depois, porque permite a resposta de um vasto universo de receptores da mensagem iconográfica na medida em que passam a ser, também, emissores. Entendo que não é de temer a vulgarização da Fotografia enquanto arte pois, por analogia, pintar ou escrever sempre esteve ao alcance de qualquer um, mas pintar bem e escrever bem implicou sempre a prestação do intelecto, o contributo da sensibilidade, e a argúcia do engenho.
No que toca à Fotografia, sempre achei que essa expressão “Banalização da Imagem” não tem razão de ser. Quem a usou, e talvez use ainda, foram alguns fotógrafos profissionais; aqueles que sentiram o chão fugir-lhes debaixo dos pés com o advento do Digital, porque, não tenhamos dúvidas, um certo romantismo idealizado do fotógrafo solitário, artista, conhecedor de truques e segredos da profissão, detentor de umas câmaras fotográficas grandes, caras, e meio complicadas de usar, acabou.
Essa realidade está ultrapassada, e no seu lugar estão agora fotógrafos que em muitos casos aceitam trabalhar em equipa, que dominam as técnicas de edição e difusão digital, virtual e internáutica, e que utilizam a técnica, a criatividade e o marketing para vender o seu produto.
Mas esta história tem duas faces, vejamos quem está do outro lado.
Nesse outro lado está um público ensinado a reconhecer uma nova ortografia do audiovisual, desde a imagem estática da sinalética urbana, passando pela iconografia e simbologia linguística simplificada, até ao spot publicitário que nos conta, em breves segundos, uma história de fazer chorar as pedras da calçada ou nos induz a comprá-las como pedras preciosas. E esse público, com essa “instrução”, entende-se perfeitamente nessa aparente cacofonia visual que a imagem integra no quotidiano. Ele sabe, a cada momento, separar aquilo que lhe interessa como mensagem, daquilo que nesse mesmo momento considera ruído visual – para, num momento diferente, divergindo as suas atenções trocar a sua escolha. Portanto, essa “Banalização da Imagem” não é coisa que me preocupe.

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