recantos de Lagos VII
nos tempos do tráfico escravo...
não, não é disso e nem de caravelas o que falo
se bem que seja ainda desse espaço
a gente distrai-se
esquece
estive sentada naquele banco a sentir-lhe o largo, o frio, o incómodo (ai os meus sessenta e tais) de não ter um apoio para o braço, o dorso...
era uma manhã de inverno e sabia a pouco o sol directo, manso
retardei no achar estranho:
nem sombra, nem verde, nem flores
foi só mais tarde que ponderei no árido da Praça do Infante
a Praça da Música de outro tempo, assim, um meio deserto
certo que desapareceu o amontoado que era a esplanada e mais um sei lá o quê para libertar cheiros: tudo ao molho atrás do Infante
certo que criou dimensão a praça do Henrique,
mas deuses, senhores
e as árvores
onde?
resquícios plantados serão árvores de aqui a uns anos
mas justifica-se o abate?!
foi abate o que se deu, ou terá sido transplante?!
quem responde?!
pasmo ou esterei a ficar retrógada?
(na Júlio Dantas, escola, abateram outro tanto - enormes, lindas: que seria impedimento das canalizações - certo!)
e no largo do Infante iriam as raizes obstruir o alcatrão circundante?! a calçada?!
ou seria aquele majestoso espelho de água?!
não é espelho de água ?! de facto não parece!
o que é então?! um tanque?!
com que finalidade - alindar? refrescar?
já nem há bestas que ali passem para um gole...
imagética, talvez, para que não tenho entendimento
e o meu sentido estético fica tentando, tentando, mas no final responde-me, invariável: "não gosto"!
e no entanto o bom fotógrafo tira partido como mostram as fotos - obrigada Jorge Pinheiro! bem haja Ricardo Rosa!
mas a praça é local para ser vivido lá dentro, no convívio
e nem sombras, nem bancos com encosto, nem pássaros chilreando ao fim da tarde
e a acrescer, a dominar tudo, a impedir...
um espaço aguado desnecessário com o rio e o mar ali mesmo do outro lado...
não, não é disso e nem de caravelas o que falo
se bem que seja ainda desse espaço
a gente distrai-se
esquece
estive sentada naquele banco a sentir-lhe o largo, o frio, o incómodo (ai os meus sessenta e tais) de não ter um apoio para o braço, o dorso...
era uma manhã de inverno e sabia a pouco o sol directo, manso
retardei no achar estranho:
nem sombra, nem verde, nem flores
foi só mais tarde que ponderei no árido da Praça do Infante
a Praça da Música de outro tempo, assim, um meio deserto
certo que desapareceu o amontoado que era a esplanada e mais um sei lá o quê para libertar cheiros: tudo ao molho atrás do Infante
certo que criou dimensão a praça do Henrique,
mas deuses, senhores
e as árvores
onde?
resquícios plantados serão árvores de aqui a uns anos
mas justifica-se o abate?!
foi abate o que se deu, ou terá sido transplante?!
quem responde?!
pasmo ou esterei a ficar retrógada?
(na Júlio Dantas, escola, abateram outro tanto - enormes, lindas: que seria impedimento das canalizações - certo!)
e no largo do Infante iriam as raizes obstruir o alcatrão circundante?! a calçada?!
ou seria aquele majestoso espelho de água?!
não é espelho de água ?! de facto não parece!
o que é então?! um tanque?!
com que finalidade - alindar? refrescar?
já nem há bestas que ali passem para um gole...
imagética, talvez, para que não tenho entendimento
e o meu sentido estético fica tentando, tentando, mas no final responde-me, invariável: "não gosto"!
e no entanto o bom fotógrafo tira partido como mostram as fotos - obrigada Jorge Pinheiro! bem haja Ricardo Rosa!
mas a praça é local para ser vivido lá dentro, no convívio
e nem sombras, nem bancos com encosto, nem pássaros chilreando ao fim da tarde
e a acrescer, a dominar tudo, a impedir...
um espaço aguado desnecessário com o rio e o mar ali mesmo do outro lado...
Comentários
mas e para isso...
"(...)
Címbalos de Imperfeição... Ó tão antiguidade
A hora expulsa de si-Tempo! Onda de recuo que invade
O meu abandonar-me a mim próprio até desfalecer,
E recordar tanto o Eu presente que me sinto esquecer!...
Fluido de auréola, transparente de Foi, oco de ter-se...
O Mistério sabe-me a eu ser outro... Luar sobre o não conter-se...
A sentinela é hirta - a lança que finca no chão
É mais alta do que ela... Para que é tudo isto... Dia chão...
Trepadeiras de despropósito lambendo de Hora os Aléns...
Horizontes fechando os olhos ao espaço em que são elos de erro...
Fanfarras de ópios de silêncios futuros... Longes trens...
Portões vistos longe... através de árvores... tão de ferro!"
Fernando Pessoa in Impressões do Crepúsculo
atrativo estético-intelectual que bem pode ter estado na origem da subconsciente procura dos criadores, em contraponto com a arborização do desinteressantemente denominado Jardim da Constituição. a presença das árvores em crescimento são uma corrupção, calculo que tenha sido uma concessão ao presente, que alguém corrigirá quando se acentuar o volume de crescimento.
evolução já começada no centro histórico, bem definida por CONVIDADITO, que deu origem a "mistérios outonais do centro histórico", aqui a publicar-se, e a um concurso fotográfico "LAGOS MELANCOLIA OUTONAL", também com o patrocínio deste blog.
praça de desembarque para o deserto.
o regresso do espírito de partida.
Só peço que haja coragem para continuar a intentar em outro desenlace, e que já agora chova chavo claro…
Espaços abertos, certamente!
Porém, a meu ver, as Praças das cidades não devem dar demasiada relevância à monumentalidade, devem ser povoadas por pessoas, especialmente pelos seus habitantes.
No caso, a Praça existente, que o poema de Sofia M. B. Andressen imortalizou, conjugava o melhor de ambos os mundos: espaço aberto ao levante, um oásis de sombra e de frescura e um ponto de encontro, como o são todos os "adros das igrejas".
Depois, das questões estéticas e funcionais, surge a questão da oportunidade e da relação custo benefício. Esse é o cerne da questão: VALEU A PENA?
que tinham um apartamento
no campanário da Igreja.
Para onde teriam ido,
já que perderam o mercado municipal
onde se abasteciam de pardais...
para distribuir pela fiharada.
Não sei se chore as corujas...
se os pardais...
Ah, seu palerma!
Pardais há muitos!