SALAZAR MOSCOSO
Trazemos hoje a este blog, uma figura muito interessante, do passado lacobrigense.
Trata-se de Bartolomeu Salazar Moscoso, homem culto e palavroso, republicano - embora filho de gente endinheirada -, que nasceu em Lagos no dia 9 de Janeiro de 1856.
Cedo se fez notar escrevendo para jornais, veiculando as suas ideias republicanas, democráticas e progressistas.
Na Universidade de Lisboa, onde cursou Letras, manteve amplos contactos com figuras bem conhecidas, como Fialho de Almeida e Marcelino Mesquita. Com este último, fundou o jornal "O Académico".
Em Lagos, exerceu grande actividade jornalística, escrevendo para a "Folha Democrática", "Notícias do Algarve" e o "Pró-Lagos", onde também fundou um dos primeiros centros republicanos do Algarve, juntamente com José Brak-Lamy.
Tem uma variada obra em poesia, patente em jornais e revistas da época, embora nunca tenha publicado nenhum livro.
Viria a falecer em 1933, em Santarém, onde exerceu a profissão de Conservador do Registo Predial e depois, Professor na Escola Primária Superior.
Eis um dos poemas, duma série que escreveu sobre árvores e frutos:
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O Limão
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Cor de canário, mas modesto e mudo,
Sou, talvez, perigoso, porque iludo,
D´amarelo,
Tão singelo,
Delicado,
Perfumado,
De maneiras reverentes
E a palidez dos doentes,
Por fora suave e ledo,
Por dentro sou bem mau, se sou azedo!
Afinal, eu sou como muita gente,
Aproveitável, certamente,
Que na face tem doçura
E a alma sempre cheia de amargura!
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E ficou célebre um seu comentário, aquando da visita do rei D. Carlos, a Lagos.
O rei viajou no iate real, até à Baía e chegou ao cais num bote a remos devidamente engalanado para transportar o monarca.
Mas para a última parte do percurso até entrar na cidade, tinha de ser encontrado um outro meio de transporte. Pelos vistos não acharam melhor que uma zorra - veículo que anda sobre carris, e que, como se sabe, serve para transportar materiais diversos (também condignamente ornamentado e decorado).
Em face do insólito duma tal solução para transportar o rei, Salazar Moscoso emitiu o seguinte comentário, que ficou para a posteridade:
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"Terra onde o Rei chega de zorra
é terra de merda
é terra de porra! "
Comentários
sejam as que se alumiam e procurem-se outras
õlhem que curioso, assim ali numa busca rápida: como foi norteada a Comissão Municipal de Toponímia que surge em 14/02/1990, e transcrevo daqui
A Comissão foi criada, não com a missão somente de indicar ou sugerir nomes para as ruas para depois a Câmara as aprovar, mas também com os princípios que se transcrevem «Não alterar o nome das ruas; respeitar os nomes de origem histórica; conservar a origem dos locais onde estejam inseridas ou projectadas as ruas respeitando a tradição (nomes tradicionais); dar às nossas ruas nomes de notáveis de Lagos ou de outros de reconhecido mérito nacional; notabilizar as figuras típicas que tivessem marcado uma época da vida da cidade: artesãos, pintores, artistas teatrais, etc., dando os seus nomes a ruas; fazer o roteiro biográfico dos nomes das figuras inscritas nas placas toponímicas; historiar o porquê das ruas que não representam figuras tivessem qualquer outro significado».
A Rua Direita de Lagos chamava-se Rua Lima Leitão, depois Drº Oliveira Salazar e agora Rua 25 de Abril. Não me parece que valha a pena regressar a nenhum nome antigo. Outros tempos e outras realidades lhe darão novo nome, cagando então no 25 de Abril (como evento que defraudou as expectativas nele depositadas), porque a verdade não é imutável, bem pelo contrário. Em cada tempo há uma verdade absoluta.
Não sei qual é o mérito de ser nome de rua e ainda mais quando o gajo que dá nome às ruas é um plagiador reputado, ficamos sem saber em que terra estamos... (logo hoje que caiu em desgraça o senhor zu Guttenberg, ministro de defesa da Alemanha, por ter cometido plagio numa tese).
Sendo o senhor Moscoso republicano e progressista, merece!...
Um Rei é uma porra...
assenta-lhe bem uma Zorra.
O Rei já se foi, mas a terra, essa, ainda fede?
Francisco lumière: quem sabe se SM, republicano convicto como parece ter sido, não teria rejubilado se o rei, ao alçar a perna da embarcação real para a zorra, tivesse caído ao mar e se afogasse. quem sabe se não teria gostado que tivesse sido alguém a empurra-lo, quem sabe se não gostaria de ter sido ele próprio a empurrá-lo. no entanto, não deixa de invectivar a terra que não soube, a seu ver, receber condignamente. mas uma terra não tem que ser obrigada a fazer para além das suas possibilidades. o que conta, é a mentalidade dos seus habitantes. assim se mede o tamanho de um terra. decerto que era disso, atrevo-me a supor, que SM falava, e que você conclui.
Nem me atrevo a aquilatar as razões dos nossos antepassados para esta extravagância, mas o comentário de SM, aqui postado por VC, é fabuloso e pelos vistos lendário.
A terra, essa, ainda é modesta, recebe ainda os ilustres singularmente de feição; julgo eu.
o que se passou entre o monarca
e os remadores... que eram alvoreiros...
Por aquilo que me disseram (há muito tempo e não sei da parte de quem) essas falas
foram fabulosas, por parte dos alvoreiros.
Imagine-se o Raul d´Alvor a dialogar,
por exemplo com o Pio...