CONTOS EM BARÃO - DIÁLOGOS CURTOS

 Muita curiosidade nesta 2ª Sessão de Contos em Barão, não apenas pelos contos em si, o que já não era pouco, mas ainda pela expectativa criada em torno de uma experiência em diálogo curto que teve a curiosidade de ser ensaiado ao telefone. O resultado, se observarmos as expressões de Filomena Gonçalves, Vieira Calado e Francisco Castelo, parece ter sido concludente. No final da sessão muitos foram os que manifestarem  interesse em ver publicado o diálogo cujo autor é deodato santos. Os telefonemas já recebidos no dia de hoje levaram-nos, com todo o gosto, a corresponder a esse desejo. Na próxima sessão a 8 de Março será apresentado outro diálogo, desta vez ensaiado nos corredores de uma loja chinesa. A publicação dos contos apresentados, dada a complexidade técnica, muito brevemente aqui estarão disponíveis.
( dominando a cena um quadro de Alonso, um dos doze Artistas de Barão, que em Junho se vão apresentar  na principal artéria daquela freguesia, numa exposição que tem como tema São João Baptista ) .

 Madalena Luz e Deodato Santos
 foto Francisco Luz

          
              À JANELA
- Vejo-o com certa frequência à janela.
- Adoro estar à janela.
- E tenho-o visto acenar.
- É quando passa alguém.
- Na sua rua passam multidões.
- Às vezes nelas vejo pessoas.
- Acena a pessoas que descobre na multidão?
- Sim.
- Pessoas que vão e que voltam?
- Sim.
- Na torrente humana do dia a dia?
- É isso.
- Pessoas que conhece?
- Nem sempre.
- Acena também a pessoas desconhecidas?
- Não posso dizer que sejam totalmente desconhecidas.
- Já as tinha visto anteriormente?
- Não é bem isso. Se no meio da multidão vejo alguém a quem me apetece acenar, aceno.
- Mesmo sem nunca a ter visto?
- O facto de me sentir incitado a cumprimentá-la leva-me a crer que há nela qualquer coisa que conheço.
- Decerto qualquer coisa que se parece consigo. No fundo o que você está a fazer é cumprimentar-se a si próprio.
- Curiosa dedução…
- …que rejeita…
- …de modo algum. Em vez de curiosa vou apelidá-la de brilhante.
- Obrigado.
- E você nunca faz isso?
- Cumprimentar-me a mim próprio?
- Sim, da sua janela cumprimentar a multidão.
- Não tenho janela para observar a multidão. Sou sempre multidão.
- Salvo quando está em casa.
- É raro estar em casa.
- Não gosta de estar em casa?
- Não, a casa pode cair.
- Percebo. É por isso que mora no rés-do-chão.
- Como sabe?
- Disse-me há pouco. Mas do rés-do-chão também se pode observar a multidão.
- As caras ficam à altura das nossas.
- Realmente.
- Além disso nunca se deve abrir uma janela de rés-do-chão. Há uma grande diferença entre olhar os outros e por eles ser olhado.
- Se há. A minha janela está em boa altura para ver a passagem dos exércitos.
- Está a prever a passagem de algum?
- O que o leva a pensar que por aqui não voltarão a passar?
- Não queria fazer tal afirmação. Como gosta mais de vê-los? Na ida ou no regresso?
- Na ida o público é muito vibrante.
- No regresso também.
- Só no caso de um regresso vitorioso.
- E você?
- Vibro com as partidas mas fico desiludido se os regressos são vitoriosos.
- Porquê?
- Gosto de ver o regresso derrotado de um exército que partiu convicto da vitória.
- E também acena?
- Muito. Só quando vêm derrotados é que os exércitos são compostos por pessoas. 
deodato santos

Comentários

vieira calado disse…
Opíparos "os milhos" da Dona Maria,
magnífica a sessão de contos, no Bzaranha!
francisco disse…
Gostei!

(e a foto tá muito boa)
Maria de Fátima disse…
eu não vi, mas...e os "contos em si" onde estão? e como foi?! nem nada que se saiba dessa primeira parte que imagino suculenta...
Anónimo disse…
... alguém sabe do bóson de Higgs?
Anónimo disse…
o bosão de higgs atirou-se da ponte D. Maria.
deodato santos disse…
cuja existência a ciência procura provar. a antiga ciência yoggi, dizem-me, com outros métodos, afirma que sim e dá-lhe o nome de prana.

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