Companhia de Lagos II

No caso da "Companhia de Lagos", seria mais correto designar de "companha” em vez de companhia. Diversos tratadistas ilustres a referiram dessa maneira, e nota-se que as viagens dos de Lagos, no sec. XV, foram quase sempre casos isolados e independentes uns dos outros. A empresa de Descobrir era ao que parece, do dever de varões da casa do infante (os do Ducado de Viseu), embora alguns dos atores destas façanhas fossem nascidos em Lagos. As companhas de Lagos (que se poderia também designar por: confraria, irmandade ou compromisso marítimo; uma associação temporária destinada a executar uma certa tarefa na qual se combinava a parte de cada camarada) são, pelo que reza a (hi)estória,  ao invés  das proezas de dar mundos ao Mundo, empresas  com fins lucrativos, com vista a trazer para o reino do Algarve bens que por cá rareavam.

Uma pergunta surge: como poderiam estes provinciais aventurar-se mar fora com caravelas topo de gama e em número notável? Pois pode-se inferir com alguma segurança que estes camaradas foram os inventores e produtores da “Caravela de Descobrir”, também intitulada de Caravela de dois mastros ou de Caravela Lusitana. É narrado, nas cronicas da época, que os de Lagos eram hábeis a marinhar e sempre prevaleciam quando defrontavam escaramuças náuticas. Note-se que para tal, só seria provável pelo insofismável valor dos homens e de uma tecnologia avançada (bastante plausível!). A Caravela de Descobrir ou a Caravela de dois mastros é também um valor imaterial, uma ideia que todos os portugueses citam com orgulho, mito da criação do império ultramarino (embora que por fim tresmalhou); e esta Caravela mítica é de facto a “Caravela de Lagos”! 

Nos anos 80 do século passados os sábios doutos nestas coisas náuticas resolveram que podiam construir uma replica aproximada à caravela de descobrir; seu produto o navio baptizado por Caravela Boa Esperança, que vive agora no rio de Lagos.

Passo por ela todos os dias, já é minha irmã. Passava por ela, nos idos oitentas, quando apanhava a Fragata da Marinha para ir para a Aviação, então eu prestava serviço na Base do Montijo e era na doca da Marinha, no Terreiro do Paço em Lisboa, que apanhava via. Lá estava ela solitária e fantástica à espera de mastros, já a prezava, ligava-me à minha terra. Hoje já me ficcionei a esta herdança e tudo, enche-me o imaginário de aventuras que não vivi, mas coabito.

Dizem por ai que agora a vão alienar, 'a coisa está mal, o graveto não dá para manter uma dama extravagante'; será o nosso passado um capricho?...

Eu digo que aqui só se vive do turismo: do de sol, praias e bebedeiras (é insofismável); mas também do histórico!

(Acta est fabula)

Comentários

vieira calado disse…
Certamente que na Caravela de Lagos
marujavam, homens da estirpe de Xico Mèlon e do Xico Calhau!...

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