á dois centros de cultura em Barão de São João.




Aquele nos limites da Mata, que ajudei a construir de picareta nas mãos e de pés nos corredores dos ministérios em Lisboa - com o apoio do socialista algarvio Luís Filipe Madeira, membro do Governo.
E aquele construído por José Manuel Nobre da Silva.
O primeiro destinava-se a uma comunidade ancorada num tipo de civilização conhecendo o seu estertor, a civilização rural.
O segundo acompanhou e foi reflexo dos novos hábitos sociais e foi muito influenciado e suportado pelos egressos das sociedades europeias mais desenvolvidas, a conhecer também os sinais precursores de um estertor, a civilização industrial.
O que o primeiro não conseguiu ser, foi-o o segundo.
A Cultura, no sentido de ponto de encontro de pessoas e ideias e geradora de movimento, foi conseguida pela personalidade marcada do Zé Manel, homem com muita curiosidade, atento à leitura, informado e com opinião crítica: um comandante de navio ao balcão do bar.
O espaço, preparado sobretudo para música ao vivo, chegou a receber outras manifestações de pessoas com coisas para mostrar, incluindo uma apresentação do meu teatro Sainete ( agora no Centro Cultural de Lagos) em espectáculo exclusivo para a família Nobre da Silva.
De facto não é a minha cultura. Fiquei parado no ruralismo.
Gostaria de ver pessoas atraídas não pela "música ao vivo" mas pelo "silêncio ao vivo". Não a multidão que ensurdece e dilui o individuo mas grupos compostos por indivíduos.
Raramente oiço música. É como a poesia, não é para todos os momentos. E em certos ambientes e em certos estados de espírito. E quando a oiço não concebo a ideia que o meu vizinho tenha que ouvi-la e tenha que gostar do que eu gosto.
Imagino-a como o máximo da intimidade, como aquele que leva as pessoas a fecharem-se nos gabinetes onde está a sanita.
Continuo, de forma cada vez mais requintada, tal como diziam quando aqui cheguei: " a viver ali para cima como um bicho."
Além de lugares de encontro e cultura o que distingue os bares é a personalidade de quem o anima: é um médico que serve a receita de que se é dependente e um psicólogo que avia a palavra.
José Manuel Nobre da Silva, que dá nome a Barão de São João, homem que oferece frequentemente flores a sua esposa.
Posted by Picasa

Comentários

francisco disse…
«Gostaria de ver pessoas atraídas não pela "música ao vivo" mas pelo "silêncio ao vivo". Não a multidão que ensurdece e dilui o individuo mas grupos compostos por indivíduos.»

Nem mais.
O silencio fez-me lembrar Neruda em: "A callarse"

http://youtu.be/p8ieLGFIaTk

Mensagens populares deste blogue

Deodato Santos - Artista? Figurinista? Escultor?

Chamou-lhe um Figo