A Pesca do Atum e de Outros Peixes na Costa Barlaventina



A Pesca do Atum e de Outros Peixes na Costa Barlaventina

- Almadravas e Acedáres -

Com o passar dos anos vai ficando esquecida essa importante actividade que foi a pesca do atum e da sardinha no Barlavento do Algarve, nomeadamente de Lagos até ao Cabo de S. Vicente.
A pescaria dos atunídeos no Algarve foi, sem dúvida, aquela que mais riqueza gerou, tanto para o Estado como para os que directamente a exploraram. Conta a História que em todo o Mediterrâneo o atum era pescado em grandes quantidades e também extraordinariamente apreciado a ponto de lhe atribuírem virtudes como alimento saudável. O certo é, que a importância deste peixe foi tal que os povos da antiguidade cunharam, ou melhor, bateram, moeda com a figura do peixe.
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As almadravas, compostas por redes fixadas por pedras com furos (poitas), ao fundo marinho, eram redes com um compartimento onde o peixe ficava enclausurado, denominado saco, ou buxo.
Os cercos de correr não deixaram na costa barlaventina grande tradição. De facto, ficaram conhecidos mais por estarem ao serviço da pesca de outras espécies e não, particularmente, do atum. Porém, na eventualidade de alguns destes peixes de maior porte caírem nesse cerco eram então arpoados e embicheirados (a forma tradicional de se conseguirem embarcar).
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Já D. João II negociou as pescarias com o Conde de Travento, um italiano que aqui estabeleceu negócio considerado, à época, bastante rendoso. Ainda durante o seu reinado outras concessões forma feitas a sicilianos, milaneses e outros que, mercê do êxito alcançado, até mandaram erigir a expensas suas, a ermida de S. Roque, no delta da ribeira de Bensafrim. Daí o nome dado à extensão de praia compreendida entre as duas barras da entrada do porto. Também construíram a Igreja de S. Pedro, situada na Ribeira dos Touros. Ambos os templos foram destruídos pelo terramoto de 1755.
A citada praia de S. Roque conheceu ali um grande arraial de armações, bem como os estaleiros navais. Vivia-se, então, neste local, uma intensa actividade, razão pela qual existia o necessário apoio espiritual materializado na edificação desses templos.
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O que importa expor são os aspectos mais importantes da história das armações no Barlavento algarvio, de Lagos até ao Cabo de S. Vicente, e a sua ligação à indústria conserveira, factor que lhes trouxe um novo alento.
Com o desenvolvimento industrial da Europa as novas armações de sardinha implicavam o uso de menos redes – por não terem a rabeira de fora, esse prolongamento da rede que avançava longamente pelo mar fora, para além do copo.
Registaram-se grandes proveitos, mas também grandes crises, sobretudo em consequência da endémica má administração das armações que nunca cuidaram do conveniente suporte financeiro, colocando-se invariavelmente à mercê de onerosos empréstimos e de investidores oportunistas. Com o desenvolvimento da indústria conserveira, tendo por base a sardinha, as armações em actividade entre Lagos e Sagres eram, em 1917, as seguintes: À do Sol. Algarve, Atalaia I, Barranco da Figueira, Boca do Rio, Cama da Vaca, Cucos, Ferrarias, Ingrina, Leixito do Lobo, Maria Josefina, Mata Porcas, Ponta de almádena, Salema, Santinhas, Sociedade de Pesca Ferrarias Lda., Torre Alta, e Zavial. Laborando ainda uma de atum: Sul da Ponta da Baleeira. Empresários armadores: Beatriz Rosa Nunes, Boulain & Neto, Cassio e Cª, Companhia Neptuno, Empresa Insustrial da Luz, Eugénio Boulain e Cª, Febronia Amália d’Abreu, e João A. Júdice Fialho.
As principais fábricas de conserva, clientes desse pescado eram as seguintes: A. Afonso Marreiros & Cª, Balança, Taquelim & Cª, Cristiano & Cª, Cooperativa Aliança Lacobrigense, Empresa de Conservas do Molião, Empresa industrial da Luz, Frederico Delory (Viúva de), João António Júdice Fialho, Jorge & Cª, Manuel CAssio Tovar & Cª, Manuel Galvão Rocha & Cª, Pierre Charles Chancerelle, Silva, Oliveira & Cª, e Sociedade Mercantil de S. João. Há ainda a considerar as seguintes salgas de peixe: ª Pappeleonardos, Empresa Industrial da Luz, Giorge Fandepoulos, George Novak, e João Maria Parreira Cruz.
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A grande empresa da época, António Júdice Fialho, com fábrica em Lagos montada no ano de 1899, detinha algumas armações no Barlavento. Esta era uma empresa polivalente pois não só estava presente nas pescas e na indústria das conservas como também no ramo agrícola. Os apoios em terra, às suas armações, eram os mais eficientes e apetrechados e, em Lagos, possuíam um estaleiro naval, na Praia de S. Roque onde cosntruíam, também, os arraiais das armações da Torralta e da Torraltinha, em local já longamente utilizado para essa finalidade, desde 1490, altura da construção da ermida a esse orago. A empresa Fialho possuiu os primeiros barcos a vapor para rebocar as suas barcas das armações para conduzir o peixe às lotas de vendagem. O primeiro barco chamou-se “Atalaia”, nome de uma armação de Sagres (Ponta da Atalaia). O segundo chamou-se “Galgo”, e foi mobilizado para a 1ª Grande Guerra, para fiscalizar a costa, sendo armado com um canhão. As barcas das outras armações utilizavam as velas ou os remos para transportar o pescado até às lotas, tinham três tripulantes, sendo um deles o mestre da embarcação.
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Excerto do livro “Contributos para as Memórias de Lagos”, de José Carlos Vasques, a apresentar em breve. Edição do Grupo dos Amigos de Lagos com colaboração do CEMAL – Centro de Estudos Marítimos e Arqueológicos de Lagos.

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