Claustrofobias, o livro
O culto do objecto. Sendo um livro, começa-se pelo apreço da capa, que é bonita. Passando pelo desígnio do autor, fica-se com a ideia de que há uma tentativa de justificação do acto da escrita, o que, para mim, é sempre improcedente; escrevemos aquilo que queremos ler (ou ouvir contar) e ainda ninguém escreveu (ou nos contou); escrevemos pelo prazer de realizar, é uma forma de edificação como outra qualquer; escrevemos para apertar o nó à corda que se balanceia e nos coloca à prova em cada patíbulo; escrevemos para limpar o baço do espelho; escrevemos por idealismo, o culto de ser autor; escrevemos porque a isso não somos obrigados; enfim, escrevemos!
O prefácio é como um bom prefácio deve ser: generoso; exultante, anima de expectativa o leitor.
O livro: é pela atmosfera que nos enredamos sem grandes resistências e nos dispomos a estar presentes; se atentos, não nos escapará a interessante ligação temporal entre as diferentes partes da narrativa, que nos parece consonante apesar das inverosimilhanças no mesmo plano; a intemporalidade que não atrapalha o leitor; isso é muito bom. Perde-se, no entanto, alguma disponibilidade perante a mescla estrutural das personagens; o autor, nota-se, desistiu delas antes de nós.
Se a Bela fosse dado transmitir coisas de si ao autor, ter-lhe-ia feito chegar, em missiva dialéctica virginal, pudores inconfessos, ambiguidades, contradições humanas, insolvências, anseios e aderências às tramas do leitor; não se rebelaria Bela no leito a escalavrar a sua lisura cutânea por incompreensão ou desejo de aceitação da mundaneidade; aceitava-se de bom grado que Bela, em tal delírio, guiasse a mão do Senhor a um castigo sacro, ou que fosse o Espírito Santo, benigno, a ensinar-lhe o santo oficio.
É desamor do autor, entrar e sair de um claustro sem provocar um estrépito herético, avassalador e memorável personificado numa ou mais personagens. Entrar e sair desse espaço como um respeitoso católico que, durante o missal, se entreteve em divagações fantasiosas com a Virgem e Maria Madalena, para, depois, se confessar ao padre esperando a absolvição, é que não. Haja respeito pelo leitor!
Como exercício de estilo, parece-me necessário insistir na fluidez da narrativa e evitar algumas fórmulas buriladas que impedem uma progressão vivaz; não abandonar as personagens sem lhe dar densidade, compleição.
Escusado será dizer que não é pelo saber da escrita que redigi esta critica, mas pelo saber da leitura, e ainda que uma critica nunca é isenta nem tem que o ser.
O prefácio é como um bom prefácio deve ser: generoso; exultante, anima de expectativa o leitor.
O livro: é pela atmosfera que nos enredamos sem grandes resistências e nos dispomos a estar presentes; se atentos, não nos escapará a interessante ligação temporal entre as diferentes partes da narrativa, que nos parece consonante apesar das inverosimilhanças no mesmo plano; a intemporalidade que não atrapalha o leitor; isso é muito bom. Perde-se, no entanto, alguma disponibilidade perante a mescla estrutural das personagens; o autor, nota-se, desistiu delas antes de nós.
Se a Bela fosse dado transmitir coisas de si ao autor, ter-lhe-ia feito chegar, em missiva dialéctica virginal, pudores inconfessos, ambiguidades, contradições humanas, insolvências, anseios e aderências às tramas do leitor; não se rebelaria Bela no leito a escalavrar a sua lisura cutânea por incompreensão ou desejo de aceitação da mundaneidade; aceitava-se de bom grado que Bela, em tal delírio, guiasse a mão do Senhor a um castigo sacro, ou que fosse o Espírito Santo, benigno, a ensinar-lhe o santo oficio.
É desamor do autor, entrar e sair de um claustro sem provocar um estrépito herético, avassalador e memorável personificado numa ou mais personagens. Entrar e sair desse espaço como um respeitoso católico que, durante o missal, se entreteve em divagações fantasiosas com a Virgem e Maria Madalena, para, depois, se confessar ao padre esperando a absolvição, é que não. Haja respeito pelo leitor!
Como exercício de estilo, parece-me necessário insistir na fluidez da narrativa e evitar algumas fórmulas buriladas que impedem uma progressão vivaz; não abandonar as personagens sem lhe dar densidade, compleição.
Escusado será dizer que não é pelo saber da escrita que redigi esta critica, mas pelo saber da leitura, e ainda que uma critica nunca é isenta nem tem que o ser.
Comentários
Escreves muito bem. E sabes muito bem o que estás a dizer.
Já te conhecia estas qualidades, mas, com este exercício de crítica, foste bem mais além.
Bom fim de semana.
;)
:)
"o critíco não está limitado à forma subjectiva de expressão. O método do drama é seu, assim como o método da epopeia" (Oscar Wilde)
E, salvo erro, Wilde gozava com os críticos nessa afirmação. Ironizava, ou estarei errado?
Alguém me esclarece onde está à venda aqui no nosso burgo?
....
e agora, será que era pedir muito a um de vós (colaboradores) se vos pedisse que fizessem um post novo, nem que seja uma foto (ou um desenho) aqui no blog? Vá lá, vá lá, sejam amáveis...