micro-conto

Micro-conto: é uma espécie de conto muito pequeno, com características diferentes das de um conto pequeno ou “conto curto”. O micro-conto recorre à sugestão, deixando ao leitor a tarefa de completar as elipses narrativas e “construir” a história para além do texto apresentado. Usualmente, a definição de micro-conto estabelece o limite de 150 caracteres, para permitir o seu envio em mensagens de telemóvel, evidenciando a ligação às novas tecnologias de comunicação, que obrigam a uma escrita assente no microtexto.

Conto curto: não é uma categoria rigidamente estabelecida, mas um texto que, obedecendo à estrutura tradicional do Conto, é geralmente delimitada entre as 1.000 e as 3.000 palavras. E recordo que o Conto já é uma narrativa pouco extensa (por comparação com o Romance e a Novela), e a sua brevidade tem implicações estruturais: reduzido número de personagens; concentração do espaço e do tempo, acção simples e decorrendo de forma mais ou menos linear.

Ora, não sendo objectivo criar micro-contos para enviar por telemóvel, e procurando evitar que o autor fique refém da estrutura e dimensão do Conto Curto, foi estabelecido o tamanho correspondente a uma página A4, equivalendo, portanto, a cerca de 500 a 600 palavras. Assim, julga-se que este tamanho intermédio permitirá alguma liberdade de criação sem pôr em causa o objectivo de criar histórias breves.

Exemplo de um micro-conto, na definição a que podemos chamar tradicional, (cerca de 150 palavras), e não naquela que é proposta aos convidados, versão mais extensa:

«Era então membro do júri do Prémio Casa de Las Americas, onde me tornei amigo de Mário Benedetti e de Lincoln Silva, poeta paraguaio, que mais tarde traduzi para português. Mas sentava-se ao meu lado, manifestando uma grande simpatia, uma rapariga de meia estatura, sempre pólo e jeans, que parecia cigana. Só os olhos, muito rasgados, diziam que ela era índia. Chamava-se Marília Hurtado. Houve uma manhã em que, acometido de uma enxaqueca, com vómitos e horríveis dores de cabeça, sem que os meus medicamentos me minorassem a dor, fui nadar para a piscina de água gelada, confiando no efeito da vasoconstrição. Marília seguiu-me sem eu dar por isso. Nadou também, secou-se e quis acompanhar-me ao meu quarto. Curei-me nos braços dela, amando-a, primeiro, com muito esforço, depois em triunfo, banhado de luz e felicidade.Enquanto permaneci em La Havana nunca mais nos largámos de mão na mão, de olhos nos olhos. Até à dor da separação.»

Urbano Tavares Rodrigues


E já agora, aproveito para vos desejar Boas Festas, oferecendo-vos este Micro-Conto para este Micro-Natal que se aproxima (retirado da rede social FB, sem autor identificado).

Numa das muitas cartas enviadas ao Pai Natal, recebidas pelos correios, uma menina fazia o pedido de 100 euros. Não podendo satisfazer tal desejo, os correios decidiram reencaminhar a carta para Cavaco Silva. Este, para que a menina continuasse a acreditar na existência do Pai Natal, respondeu, mas enviando apenas 10 euros. A menina ficou encantada com a resposta, guardou o dinheiro, mas reparou no remetente “Pai Natal – Belém”. Imediatamente achou que deveria responder, agradecendo: “Pai Natal, muito obrigada pelo presente, mas da próxima vez, por favor, envie directamente para o meu endereço, pois quando passa por Belém, aqueles ladrões ficam com 90%”