ao amanhecer


Na neblina viscosa e húmida
vejo o fantasma de um barco
caravela de muitas descobertas
perdida na vastidão das águas
ao amanhecer.

Num momento de contemplação
observo-a voando em linha recta
Linha imaginada no centro do rio
ao amanhecer.

Nessa hora ainda difusa e húmida
que em mim traduz a solidão
observo a gaivota que voa
e ela prende-me com um laço
ao céu, ao rio, à memória de ti
outrora ancorada no meu ser
ao amanhecer.
.

Comentários

inácio disse…
esta gaivota não é uma gaivota é um pássaro-piloto que guia as inidentificáveis formas de um barco que não é de recreio nem da faina que todas as noites aqui atraca e que à hora do indizivel desconforto regressa às profundidades oceânicas para lá da ponta da piedade passando por mim que de balde na mão não sou um pescador.
francisco disse…
ora aí está um excelente poema em prosa. E com toque kitschunga.


;D
inácio disse…
num caso a mística noutro a transfiguração do real.A realidade é tão estéril e insuportável que só a mediação do tempo e do artista a tornam aceitável.
F Nando disse…
Um belo amanhecer que o sol generoso ilumina do barlavento a sotavento com o mar no horizonte
vieira calado disse…
Soneto não é!

Tem 2 versos a mais!

Boa noite Chico!
a foto é "boa", mas cheirar-me a insónia (falta de sono)
francisco disse…
Vieira e Francisco L: não há sonetos na poesia kitschunga, justamente porque não é poesia para sono.

;p
francisco disse…
ainda para o Francisco L: oh pá, o poema chamava-se "Ao entardecer", mas quando o ia inserir no blogue é que reparei na orientação da luz e, como não tive tempo de alterar as leis da Natureza, nomeadamente o sentido do astro-rei, tive de alterar o poema. O que vale é que a poesia kitschunga é muito dúctil.

;p
inácio disse…
dos 3 exercícios até agora expostos a proposta de F.nando é a mais imaginativa. na imagem posta em exercício dominada pela bruma e fantasmagoria ele vê luz, a totalidade da costa algarvia, felicidade.em 3 curtos exercícios uma aula sobre o mistério poético que, como qualquer obra de arte, trata a realidade em 3 fases:transfiguração, fragmentacão, destruição.destruição, redução a pó, porque é dele que se fazem as estrelas.
inácio disse…
onde se lê destruição leia-se DESINTEGRAÇÃO.Transfiguração: Fragmentação:Desintegração.

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