... ver o passaredo ...

Desde que cheguei a Lagos que me fascinam as aves que por cá descobri. E uma coisa é vê-las nos livros, em gravuras ou fotografias (prefiro as gravuras, de longe), outra, completamente diferente é vê-las à frente dos nossos olhos, permeadas pelo pára-brisas ou apenas filtradas pelo olhar vestido apenas de ajustamento optométrico. Gaivotas, conhecia eu muitas. Claro. À semelhança dos pombos e dos pardais, acompanhando o grau de enraivecimento, proporcionalmente, a dimensão dos produtos de suas largadas voadoras, também as gaivotas vieram engrossar as hostes de pragas urbanas. Mas, mesmo assim, as gaivotas de Lagos tiveram desde logo um significado muito próprio para mim, o branco das penas fundindo-se com o branco das paredes do rendilhado das ruas e das casas, a mancha vermelha na parte inferior do bico amarelo um toque de vida e cor a lembrar que há naturezas indomáveis que se libertam, livres, livrando-se mesmo de nós ou de nós escarnecendo nos gritos lancinantes com que rasgam a noi...