da Arte
A arte é revelação, epifanias de autor que podem ou não ser partilháveis com o espectador. Porque a obra de arte mostra, com todo o seu radicalismo, aquilo que não está à nossa disposição e que para ser conhecido exige um outro direccionamento dos sentidos, diferente daquele que usamos no quotidiano, apontados agora ao inusitado e ao inesperado. A arte não é democrática, não procura consensos, não cede a normas e a vontades alheias, não claudica perante tribunais ou polícias, não transige para além dos valores que cada obra sua declara. Digo eu, e agora contestem.
Praia da Luz, na noite em que uns ouviam poesia debaixo de uma figueira, outros ouviam a Lua uivando aos homens. |
Comentários
como definir esta imagem fotográfica? um objecto poético?
a sua produção, por ter vindo na sequência de outra manifestação de arte, pode levar a concluir: acontece arte autêntica quando impulsos artísticos geram outros impulsos artísticos.
Definir a imagem? E será necessário? Para uns pode ser uma lua mal fotografada com uma clareira de luz onde se vêem umas sombras; para outros pode não passar de um mero artifício digital (como acharão de tudo o que a tecnologia informática cria). Julgo que depois de legendada com o texto não resta muito espaço para a interpretação do espectador.Sim, pode ser um objecto poético.
A questão da autenticidade (sinceridade?) da arte é coisa complexa que não me julgo capaz de discutir, ou para a qual acho que não tenho suficiente conhecimento e reflexão acumulada. Mas, assim muito pela rama, não penso que só "acontece arte autêntica quando impulsos artísticos geram outros impulsos artísticos". Se bem percebo essa afirmação, estou mais voltado para acreditar em qualquer coisa dissonante disso, algo do tipo: a autenticidade dos impulsos artísticos é mais categórica, quanto maior o afastamento de outros impulsos artísticos. Portanto concluiria que tendo esta produção resultado da influência de outros impulsos artísticos que não apenas os que seriam atribuídos a esta, trata-se de arte menos autêntica.
Atentemos, porém, aos seguintes aspectos: Por um lado estou a reflectir de supetão, a quente, sobre aspectos que nunca me tinham preocupado, portanto sem grandes convicções naquilo que digo; por outro lado falta-me também uma ideia concreta sobre o que é a “autenticidade” da arte; e finalmente, não concedo liminarmente que esta obra seja sequência da outra manifestação de arte, até porque parte desta foi realizada antes da outra - talvez isso seja verdade se nos fixarmos principalmente no texto, mas o que apresento é uma soma de partes, texto e imagem.
Bem, tudo isto só serve para deixar em evidência as minhas dúvidas e a enorme ignorância que possuo sobre as questões da arte, mas é assim mesmo e não o escondo. Todavia, também desconfio que se tivesse certezas absolutas e respostas para todas estas questões não me dava ao trabalho de as discutir.
Abraço.
Se já está na nossa cabeça, pode ser fruto antigo, e já maduro, da mesma árvore.
Pela mesma razão a captação duma imagem poderá ser o resultado dum "objecto" que suscite uma emoção estética a quem o captou.
Só depois, vem a técnica, para a sua consecução.
Deodato: Bom, essa "autonomia da palavra" é coisa perigosa, estou a ver.
Substituir "arte autêntica" por "arte completa" e depois de explicada esta expressão, a coisa muda substancialmente de figura e então estou mais inclinado a concordar com o enunciado.
veja como "arte autêntica" se deixou dominar e depois aparece no fim a dizer "ainda aqui estou e sempre estive". até esta coisa de mandar coisas para o blog: quer coisa mais autónoma, mais teimosa, mais cínica: ainda esta tarde mandei "artistas", pareceu-me que tinha dito que tinha sido publicado. não está. nos rascunhos também não. e desta vez nem tinha escrito primeiro a lápis. maravilha, a que limbo terá ido parar?
Sobre o post desaparecido: Guarda-se sempre o rascunho em word, senão o texto final, e nunca se escreve directamente na área de trabalho do blogue. Justamente para evitar acidentes desses, entre outras razões.