A MATANÇA DO PORCO

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.......Cuidem-se pobres tristes, desconfiem

.......do milho farto ou figo à tonelada;

.......da bolota que for dada, não se fiem,

.......nem da batata doce, ou da cevada.

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.......E quando numa fria e turva aurora

.......vos cheirar a medronhos e a pastéis,

.......ai de vós, pobres tristes, nessa hora,

.......vossa vida já nem vale cinco réis.

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.......Querem de ti a flor dos teus sentidos

.......o chispe, a cachola, o coração,

.......a tenra febra para assados e cozidos,

.......o presunto, com ovos ou com pão.

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.......Deitam a tua banha a coalhar

.......para dentro de tachos e panelas

.......e da carne e toucinho que sobrar

.......fazem de ti chouriças e morcelas.

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.........em "Algarve Ontem" (em preparação)

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.........Fotografia gentilmente cedida por José Tomé

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Comentários

Fátima Santos disse…
e saíu lisa e pura a poesia sua, seu Calado!
em louvor ao porco
ao porco marafado!

À morte do dito tece louas!
O Poeta sabe
Designa de marança o acto
O dia de ser o porco morto

Designação poética
Devida não a porco em qualquer lado
Marança é morte de porco só em Lagos!

(um porquinho de Lagos, marafade!)
éf disse…
Era um porco rico, com um Puro daqueles nos beiços.
Arrebenta disse…
Sobre o que está a acontecer no "As Vicentinas de Braganza", agradecia que nos visitassem, e se pronunciassem, caso vos interesse o nosso novo dilema/problema

http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2008/04/nota-constitucional.html#links
Tareca disse…
E dizendo à nossa bela moda ...a mortepórque!

Como sempre, Grande Vieira Calado!

Abraços, até daqui a becadinhe ... aí, lá prá hora do jantar. E cachola? Há?
turbolenta disse…
As matanças dos porcos já eram.
Com esta história da ASAE e com a proibição de criação de animais caseiros sem que sejam pedidos os serviços dos matadouros para o abate do animal, as pessoas nas aldeias deixaram mesmo de produzir:porcos, vacas, ovelhas para consumo próprio. Na minha aldeia ainda este passado fim de semana se falou do assunto. Fica demasiado caro para os idosos chamarem o veterinário para ele lhes pôr o selo na orelha. Depois, para matar, têm de pagar ao matadouro para vir buscar o animal. Pagar o abate e depois o transporte novamente para casa. Então, e porque têm medo de serem multados (pesada multa, aliás), deixaram mesmo de produzir carne para uso doméstico.
Assim, morreu a tradição da "matança do porco", da festa da reunião de toda a família para se assarem umas febras bem fresquinhas, de todo aquele processo de lavagem de tripas e de enchimento de chouriços etc.

boa semana

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