Farol da Ponta da Piedade - 95 anos a piscar o olho



Despacho de 30 de Dezembro de 1911 da 1ª Repartição da Direcção Geral dos Eclesiásticos, publicada no Diário do Governo nº 10, de 12 de Janeiro de 1912, referia:
«Nos termos do artigo 90º
do decreto com força de lei de 20 de Abril último, cedida com as suas dependências, ao Ministério da Marinha, a antiga e arruinada ermida de Nossa Senhora da Piedade, assente num ponto da rocha que tem a denominação de Ponta da Piedade, na costa do Algarve, subúrbios da cidade de Lagos, a fim de ali ser construído um farol de rotação, conforme a planta junta ao respectivo processo, ficando o mesmo Ministério obrigado a entregar à comissão central de execução da citada lei, nos termos e para os efeitos do artigo 104º e seu números, a quantia de 200$00 réis, em que tudo foi computado, a título de venda.»

Como bem se compreende, o processo não seria de todo pacífico, como documenta a acta da sessão da Junta da Paróquia da freguesia de Santa Maria de Lagos de 19 de Junho de 1910:

«... Era com bastante mágoa que consentia que se fosse demolir uma ermida edificada há tantos séculos, aonde o povo concorre, principalmente os marítimos, em romaria por devoção a Nossa Senhora da Piedade; mas como esta junta não pode ir de encontro às determinações e ordens superiores, por isso se sujeita à demolição da referida ermida, para n’esse local se construir o pharol em questão...»

a ermida da Nossa Senhora da Piedade

No dia 15 de Fevereiro de 1912 o contra-almirante Júlio Zeferino Schultz Xavier, como representante da Direcção Geral de Marinha, tomava posse da ermida e dependências e, por escritura de 14 de Março do mesmo ano aquela Direcção compararia por duzentos e cinquenta mil réis um prédio rústico com uma casa térrea no sítio denominado Piedade, pertencente a Artur Baptista Galvão e esposa, para construção do farol.

No dia 1 de Julho de 1913 principiaria a funcionar o farol, que constava de uma torre de secção quadrada, de alvenaria, com cunhais de cantaria, tendo dos lados leste e oeste anexos de um só pavimento, que constituíam as habitações dos faroleiros. A torre tinha 9,09 metros de altura e o aparelho iluminante era de 4ª ordem, de rotação, mostrando grupos de cinco clarões brancos de dez em dez segundos, calculando-se o seu alcance luminoso em aproximadamente 20 milhas, em estado médio de transparência atmosférica.

Substituída temporariamente por uma luz de 6ª ordem, fixa, branca, em 2 de Maio de 1923, acabaria por passar a luz de ocultações de 2,5 segundos intervaladas de períodos de luz fixa branca, de 4 segundos de duração, no dia 15 de Dezembro do mesmo ano.

Tendo como fonte luminosa inicialmente um candeeiro de petróleo, em Maio de 1952 seria electrificado, passando a ter um alcance luminoso de 15 milhas, posteriormente aumentado para 18 milhas.

Em 1956 foi adquirido novo aparelho de incandescência eléctrica com passagem automática a gás acetileno.

Actualmente funciona exclusivamente a electricidade, estando automatizado. Com a característica luminosa de relâmpagos simples de cor branca e período de 7 segundos, tem um alcance luminoso de 20 milhas.

texto extraído de: "Onde a Terra Acaba - História dos Faróis Portugueses" - J.Teixeira de Aguiar, José Carlos Nascimento, Roberto Santandreu - Ed. Pandora, 2007



Comentários

vieira calado disse…
Pois sempre fiquei a saber mais qualquer coisinha...
Ju disse…
através dos blogs estou conhecendo Portugal dee um modo muito mais lindo do que eu imaginava. espero ver tudo isso ao vivo, um dia...
beijos
Já aprendi mais umas coisas eheh
beijinho
fotógrafa disse…
Hummm…fim de semana prolongado… sortudos que somos…rsrsrs
Divirtam-se e gozem uns ricos dias, com sol e calor…por mim, vou de certeza fazer tudo isso…e não só…rsrsrs
abraço
Manolo Heredia disse…
E a oficina deste farol tinha máquinas e ferramentas dignas do melhor museu de arqueologia industrial! Eu vi! Será que ainda lá estão?
lunatiK disse…
Viva
incrível como o deixaram chegar a este ponto, fica muito melhor na foto do ultimo post.
Cumps.

Mensagens populares deste blogue

Deodato Santos - Artista? Figurinista? Escultor?

Chamou-lhe um Figo