REVOLUÇÃO IMINENTE

para Francisco Castelo



só acredito na revolução individual, para atingi-la bastam duas coisas:


1ª- dúvida sistemática e metódica sobre toda a informação que nos é destinada. as notícias não são feitas pelos rostos simpáticos e escolhidos para o efeito transmitindo uma aparente neutralidade, mas sim por centrais de informação que defendem o ponto de vista dos macacoides dominantes. exemplo recente: a descoberta dos métodos do império merdock.


2ª- análise rigorosa e permanente do nosso comportamento atitudes e gestos quotidianos, pois tudo isso que aceitamos como natural e próprio da natureza humana não é senão a resultante de séculos e milénios de teorias criadas para defender a posição dos dominantes.


segui na tv um cientista explicando como se dera a evolução para o que somos hoje a partir do macacão que directamente nos antecedeu: por ser o mais forte não deixava comer os outros à medida da sua fome. esta maravilhosa estrutura genética tem um poder de autoregulação que detecta quando determinado órgão está sobredesenvolvido para a actividade a que foi destinado. e daí ordena uma redução do seu crescimento. e que aconteceu quando os queixais dos mais fracos foram reduzidos? fez-se um espaço no crânio. e o que faz a natureza a um espaço vazio? preenche-o. foi assim que o cérebro se desenvolveu.
 temos que repensar a lei da selecção natural sob outro ângulo: quando nos diz que a selecção se faz pelo mais forte, quem será o mais forte?: aquele que em determinado momento representava o estádio mais evoluído, perfeito, completo nessa realidade - mas já sem possibilidade de mais evolução - , ou aquele que era o elo mais fraco, o degenerado, e por isso disponível para as transformações.
acredito que este humano ainda não está acabado, que ainda está muito longe do máximo possível de evolução, e que um dia atingirá formas que serão tão distantes das actuais, como estas em relação aos dinossauros. há ensaios artísticos já com algum passado, que poem o cérebro a funcionar sem necessidade deste suporte músculo-esquelético. e veja-se como vive um dos maiores cientistas actuais que já nem fala tem.


por isso não me incomodam os macacões de agora. vejo-os como uma espécie em vias de extinção, dependentes sem cura da sofreguidão de possuir, julgando que acumular sem fim os tornará eternos, seguindo o caminho suicidário do sol que engolirá todo o sistema e acabará reduzido a uma bola solitária e sem vida.
decerto que haveria coisas que gostaria de ter mas não os invejo, pensar que estarei  mais apto para a evolução?, em termos temporais, não é satisfação nem consolo...mas há qualquer coisa que me faz sentir bem. por isso, sem intelectualizar, momento a momento, vou fazendo a revolução.
e como uma antiga canção alentejana, bem marcada no tempo, à luz da citada conclusão do cientista de que falei atrás, adquire uma actualidade extraordinária:
                                                 
                                                   "não me inveja de quem tem
                                                   carros parelhas e montes
                                                   só me inveja de quem bebe
                                                   a água em todas as fontes."

beber em todas as fontes, estar preparado para receber,  preparar-se em cada momento para ser (r)evolução.





                                                      blog LAGOS.PT : LAGOS MERECE











Comentários

francisco disse…
Assim, brincamos com as palavras. Essa revolução de que fala não é mais do que a evolução natural à qual, nesse âmbito particular, podia eu chamar "reformismo comportamental". Na conversa anterior entendi "revolução" no sentido estrito, de revolta pela força. Mas se é este o seu entendimento e era a isto que se referia, fico sentando, serenamente, a ver tal revolução passar. Não discordo dela, apenas julguei que se falava de outra coisa – da qual também não manifesto concordância ou discordância; uma ou outra, não resolvem nada no imediato, nem a médio prazo. A sua "revolução" é coisa muito lenta, a outra é comprovadamente ilusória.
As coisas mudam quando o macaco muda, lentamente. Nisso, parece que estamos de acordo.

Abraço
deodato santos disse…
pois é lenta, depende de um outro elemento de que temos uma apreensão diferente( até noutros pontos do planeta há quem a tenha outra, o que fará fora dele ): o tempo.
mas aqui ao lado, no blog delírios e certezas, Mada, tem uma interessante
maneira de ver.
francisco disse…
É interessante porque é poética, pois essa união perfeita de todos os elementos não existe, não com a conotação estrita que atribuímos ao termo. A união dos elementos reside nos seus conflitos e desordens (antes dizia-se "entropia" - embora o termo não seja correcto). Paradoxo, ou regresso às deambulações semânticas?!
O tempo é coisa fugidia, rápida demais para falar dele. Na acepção científica nem sequer flui, porque o tempo simplesmente é.

Abraço.
deodato santos disse…
diga-me francisco: se o tempo simplesmente é, poderemos considerá-lo anterior ao big-bang?

mas a brisa e o vento forte têm a mesma origem. (mesmo na metáfora).

um abraço.
francisco disse…
Nada intuo sobre isso, para mim nunca foi assunto de reflexão, portanto assim de repente: Por um lado, se não flui como é que pode ser anterior a qualquer coisa? Por outro lado, se o Nada não existe, e houve algo antes do Big Bang, esse “antes” não implica a existência do tempo?
[Quem diz que não flui, que o Nada não existe e que houve algo antes do Big Bang são os cientistas, para mim é-me indiferente que assim seja ou não].

«mas a brisa e o vento forte têm a mesma origem. (mesmo na metáfora).» e depois? Também um filho cândido e o seu irmão que se revela um serial-killer têm a mesma origem.
Mas respondi sem perceber o que pretende com esse argumento: Provar que existe união perfeita dos elementos? Se é isso, já disse que não e que sim, basta adaptar ao sentido que se pretenda. A driblar com a semântica não se marcam golos. Esta, é uma daquelas discussões que evito porque necessita de prévia sintonia terminológica ou andamos a misturar alhos com bugalhos, sem chegar a entendimento – até tendo por vezes as mesmas opiniões mas discursando coisa oposta. Isto é conversa para o plano oral e não para o escrito, e muito menos em caixas de comentários.

Abraço.

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