bàrlaventzç
.
Barlaventos
.
Poucos são os que vêm ao Algarve,
que não queiram ver de seus próprios olhos, onde, aparentemente, tudo terá
começado, no que respeita à grande balbúrdia das "muitas e variegadas
gentes" que hoje se atropelam por essa Europa fora.
E foi assim que, naquele princípio
de tarde estival, em
plena Avenida dos Descobrimentos, um carro parou junto a um
nativo – um velho pescador daqueles que logo prendem a atenção pelas feições
encarquilhadas, tostadas do sol e dos levantes (provavelmente já sem barco…
tramado pela referida balbúrdia que vai pelas europas).
O condutor simplesmente perguntou:
– Sàgrez... Sàgrez?...
O bom do marítimo, chegando-se mais
ao carro, repetiu, dizendo:
– Sagres?... – não fora ele ter
entendido mal. Ele que nunca tampouco, tinha aprendido o que quer que fosse do
celebrado inglês de praia.
– Yes, Sàgrez – repetiu o estrangeiro.
– Ná qu’ enganar! – apontou para a estrada e para as bandas de poente,
levantando e baixando várias vezes a mão esclarecedora, como que a galgar a
estrada.
– Bàrlaventzç, bàrlaventzç... bàrlaventzç... Quatre xtradas... –
deteve-se um instante, provavelmente para deixar que o turista memorizasse tão
importantes palavras. E continuou – bàrlaventzç...
bàrlaventzç... bàrlaventzç... bàrlaventzç... Sàgrez!...
Consta que, uma meia hora depois, o
casal de britânicos chegou a Sagres, sem ter de parar pelo caminho para obter
qualquer informação suplementar.
Mas, ao que também se sabe é que,
três anos depois, quando regressaram a Lagos para mais um período de férias, a
primeira coisa com que o inglês se preocupou assim que descobriu alguém que
falasse inglês, foi perguntar-lhe:
–
What does it mean… Quatre xtradas?…
.
em Estórias e Lagos & Arredores, ed. C. M. LAGOS
Comentários
Amigo Vieira Calado, desde aqui da Via do Infante agora com portagens.
Gostei do Texto.
Abraço,
José.
Um forte abraço!