Noite Poética em Barão de São João

Comentários

francisco disse…
Cinema mudo. O Sonoro ainda não chegou cá.

;D
vieira calado disse…
Pior ainda era como eu ouvi no cinema Império, em Lagos, em tempos que já vão:
"Môce... é só letrazzz, letrazzzz... bonecos, nada!
Maria de Fátima disse…
ah! como gostava de ter lá estado
mas nem imaginam a poesia pela qual troquei esse bocado!!!
Anónimo disse…
Não foi nada mudo. E a boneca da ocasião estava à porta. Portanto, tivemos tudo o que se esperava.Um dos textos poéticos lidos, escrito por Maria de Fátima:
tardes
- Uns cabelos lisos que nem lençol na corda.
Assim dizia a mãe a quem a ouvisse.
E repetia: uns cabelos lisos os da minha filha.
Deslizava o pente, desempeçando.
Horas atrás de horas. Sentadas em poiais de porta.
Cada uma seu pente, sua filha, sua resma contada de palavras.
Se diziam de uma a cada outra, numa conversa pausada.
Silêncio. Palavra. E mais silêncio.
Falas de palavras e nadas. Falas nos espaços desouvidos.
E o cabelo alisado pelo pente talhado em osso de chifre.
O sentido falado nos não ditos.
A junção dos silêncios, dizendo.
Penteando os cabelos.
Nem sempre tão lisos, nem sempre tão brilhantes. Nem sempre tão embaraçados.

(Desgrenhados, piolhosos, garotávamos entre as pernas delas num à socapa que se eternizava tal o escorrer das sombras no chão de terra, tal o gatinhar dos dedos delas devassando.)

Olhavam por entre os fios, nem sempre sedosos, nem sempre longos. Emaranhados.
Puxavam. Perscrutavam.
Olhavam entre cada dois fios separados por dedos hábeis.
Aconchegavam o pente nos cabelos. Nos seus. Era um aguardando.
Tarde era até se dar a luz do sol.

Não se pense. Não eram tardes de afagos.
Eram tardes de trabalho e arte. Dolorosas tardes.
Tardes de silêncios largos, entrecortados de salpicos de sílabas, uma ou outra palavra.
As tardes longas de catar os bichos à luz das tardes.

Mena

Mensagens populares deste blogue

Deodato Santos - Artista? Figurinista? Escultor?

Chamou-lhe um Figo