O FIGO
.........FIGOS::LAMPOS
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Aí está a época do figo!
O figo! Esse, assim chamado fruto, filho da Ficus Carica, da família nobre das Moraceae. Na verdade, em termos botânicos, o figo é um receptáculo de flores, não propriamente um fruto, a que dão o nome de síncone.
Dizem que já na Idade da Pedra eram apreciados e cultivados por cá, embora sejam originários da Mesopotâmia, Pérsia e zonas arábicas voltadas para o Mediterrâneo. A figueira, nesses tempos, era considerada uma árvore sagrada, talvez porque foi com folhas de figueira (abundantes na região), que Adão e Eva tapavam as suas vergonhas!...
Eurico Veríssimo, um grande escritor brasileiro, comenta, a este respeito, que a fruta do Paraíso tinha de ser o figo, não a maçã, e que ao desobedecer a Deus, os fundadores da Humanidade, perderam o paraíso, mas ganharam a mortalidade e o sexo, e inauguraram a indústria do vestuário! Na realidade, uma folha de macieira, não dá para tapar grande coisa…
Quando eu era miúdo, provei uma variedade chamada smirna, que é descrita nos catálogos como sendo muito doce, firme e durável, na árvore. Sei agora que é uma variedade comum na Turquia, um dos maiores produtores mundiais de figo, juntamente com o Egipto, a Grécia e a Arménia. Fiquei também a saber que Portugal nem consta da lista de produtores com menos de 6 % da produção mundial. Foi chão que deu uvas! A partir dos anos 60, a produção foi sucessivamente caindo, de tal maneira que o figo é hoje um dos frutos mais caros da praça! Uma verdadeira desgraça, e uma vergonha, particularmente para os algarvios.
É costume dizer-se que os primeiros figos são os lampos; lampo, ou lampeiro - o que é precoce, temporão, prematuro que, como diz a sabedoria popular, referindo pássaros:
....O cartaxo é lampeiro
....põe os ovos em Janeiro;
....quando vem o Entrudo
....já está penudo.
Mas, na verdade, cá por estas bandas, os primeiros figos a amadurecer são os orjais.
Logo a seguir, obedecendo à qualidade dos terrenos e à exposição a ventos e sóis, é que vem o figo lampo: é um produto de excelência, macio e aveludado, com um sabor delicado, supremo, chegando a aparecer em princípios de Junho. Dá uma segunda camada em Setembro.
A seguir, já para fins do mês, outras variedades: os marqueses e os pedrais. A época plena do figo só vem um pouco mais tarde quando luzirem os enxaires, ou (euxários inchários, enchários…), como se pode ler no Dicionário do Falar Algarvio, 2ª edição, do meu amigo Brazão Gonçalves. A variedade preta é a mais conhecida, mas também há uma branca, ou “castelhana”. São figos excelentes, quer maduros, quer em passa, bons para a prisão de ventre.
O figo coito é o mais comum. Até aos anos sessenta, a produção desta variedade era enorme e absorvia mão-de-obra que, na região de Lagos, vinha principalmente da Serra de Monchique e do Alentejo. Eram moças adolescentes (as curtanheiras) que trabalhavam na apanha do figo e que tinham apenas, como ordenado, comida e dormida e um saquito de figos, no fim dos trabalhos! E, não raras vezes, uma gravidez, mais ou menos indesejada…
Essa variedade era exposta ao sol, nos almeixares, e ia para as tulhas. Os de boa qualidade, para uma, e os outros, para a chamada tulha de figos-de-caldeira. Esses figos seguiam para os alambiques para destilar, depois de fermentados. Produziam aguardente e mais tarde, álcool. Os melhores eram destinados à indústria da alimentação. Às tantas, apareceu por aí, nos anos 50, à venda nas mercearias finas, uma espécie de bolacha, o Vitafigo, que tinha um pouco de pasta de figo lá dentro, e que, claro!... era produzida lá fora!
Os melhores figos eram colocados em ceiras ou caixas-de-madeira e muitos eram exportados. Quem os guardava em casa, para o Inverno, punha-lhes sementes de funcho, uma umbelífera fortemente aromatizada, como um travo de erva-doce, comum um pouco por todo o lado. Dizem que tem propriedades afrodisíacas.
Depois aparecem os braçajotos, brancos e pretos. Não se parecem nada uns com os outros, nem na forma, nem no paladar: os brancos (do melhor que há…, especialmente se forem apanhados da árvore e comidos logo pela manhã!), têm a casca fina e cor esverdeada, e os pretos, casca muito espessa, roxo-azulado.
De premeio, havia, nesse tempo, um grande variedade de outros figos: bacalar, três-num-prato, colhão-de-burro, cara-lisa, bacorinho, pingo-de-mel, moscatel (saborosíssimos) e, lá para o fim da estação, os sofenos, mais os já citados vindimos, na época das ditas.
Bem, em matéria de figos, estamos confessados.
Ah, já me esquecia! Quando chegam os frios ásperos do Inverno, o que reina (ou reinava) é o figo torrado. Come-se à noite (hoje, no sofá, a ver a têvê...), mastigando devagar, acompanhado dum calcezinho de wiske, ou melhor ainda, logo pela manhãzinha com um bom barranaço de medronho!
O figo! Esse, assim chamado fruto, filho da Ficus Carica, da família nobre das Moraceae. Na verdade, em termos botânicos, o figo é um receptáculo de flores, não propriamente um fruto, a que dão o nome de síncone.
Dizem que já na Idade da Pedra eram apreciados e cultivados por cá, embora sejam originários da Mesopotâmia, Pérsia e zonas arábicas voltadas para o Mediterrâneo. A figueira, nesses tempos, era considerada uma árvore sagrada, talvez porque foi com folhas de figueira (abundantes na região), que Adão e Eva tapavam as suas vergonhas!...
Eurico Veríssimo, um grande escritor brasileiro, comenta, a este respeito, que a fruta do Paraíso tinha de ser o figo, não a maçã, e que ao desobedecer a Deus, os fundadores da Humanidade, perderam o paraíso, mas ganharam a mortalidade e o sexo, e inauguraram a indústria do vestuário! Na realidade, uma folha de macieira, não dá para tapar grande coisa…
Quando eu era miúdo, provei uma variedade chamada smirna, que é descrita nos catálogos como sendo muito doce, firme e durável, na árvore. Sei agora que é uma variedade comum na Turquia, um dos maiores produtores mundiais de figo, juntamente com o Egipto, a Grécia e a Arménia. Fiquei também a saber que Portugal nem consta da lista de produtores com menos de 6 % da produção mundial. Foi chão que deu uvas! A partir dos anos 60, a produção foi sucessivamente caindo, de tal maneira que o figo é hoje um dos frutos mais caros da praça! Uma verdadeira desgraça, e uma vergonha, particularmente para os algarvios.
É costume dizer-se que os primeiros figos são os lampos; lampo, ou lampeiro - o que é precoce, temporão, prematuro que, como diz a sabedoria popular, referindo pássaros:
....O cartaxo é lampeiro
....põe os ovos em Janeiro;
....quando vem o Entrudo
....já está penudo.
Mas, na verdade, cá por estas bandas, os primeiros figos a amadurecer são os orjais.
Logo a seguir, obedecendo à qualidade dos terrenos e à exposição a ventos e sóis, é que vem o figo lampo: é um produto de excelência, macio e aveludado, com um sabor delicado, supremo, chegando a aparecer em princípios de Junho. Dá uma segunda camada em Setembro.
A seguir, já para fins do mês, outras variedades: os marqueses e os pedrais. A época plena do figo só vem um pouco mais tarde quando luzirem os enxaires, ou (euxários inchários, enchários…), como se pode ler no Dicionário do Falar Algarvio, 2ª edição, do meu amigo Brazão Gonçalves. A variedade preta é a mais conhecida, mas também há uma branca, ou “castelhana”. São figos excelentes, quer maduros, quer em passa, bons para a prisão de ventre.
O figo coito é o mais comum. Até aos anos sessenta, a produção desta variedade era enorme e absorvia mão-de-obra que, na região de Lagos, vinha principalmente da Serra de Monchique e do Alentejo. Eram moças adolescentes (as curtanheiras) que trabalhavam na apanha do figo e que tinham apenas, como ordenado, comida e dormida e um saquito de figos, no fim dos trabalhos! E, não raras vezes, uma gravidez, mais ou menos indesejada…
Essa variedade era exposta ao sol, nos almeixares, e ia para as tulhas. Os de boa qualidade, para uma, e os outros, para a chamada tulha de figos-de-caldeira. Esses figos seguiam para os alambiques para destilar, depois de fermentados. Produziam aguardente e mais tarde, álcool. Os melhores eram destinados à indústria da alimentação. Às tantas, apareceu por aí, nos anos 50, à venda nas mercearias finas, uma espécie de bolacha, o Vitafigo, que tinha um pouco de pasta de figo lá dentro, e que, claro!... era produzida lá fora!
Os melhores figos eram colocados em ceiras ou caixas-de-madeira e muitos eram exportados. Quem os guardava em casa, para o Inverno, punha-lhes sementes de funcho, uma umbelífera fortemente aromatizada, como um travo de erva-doce, comum um pouco por todo o lado. Dizem que tem propriedades afrodisíacas.
Depois aparecem os braçajotos, brancos e pretos. Não se parecem nada uns com os outros, nem na forma, nem no paladar: os brancos (do melhor que há…, especialmente se forem apanhados da árvore e comidos logo pela manhã!), têm a casca fina e cor esverdeada, e os pretos, casca muito espessa, roxo-azulado.
De premeio, havia, nesse tempo, um grande variedade de outros figos: bacalar, três-num-prato, colhão-de-burro, cara-lisa, bacorinho, pingo-de-mel, moscatel (saborosíssimos) e, lá para o fim da estação, os sofenos, mais os já citados vindimos, na época das ditas.
Bem, em matéria de figos, estamos confessados.
Ah, já me esquecia! Quando chegam os frios ásperos do Inverno, o que reina (ou reinava) é o figo torrado. Come-se à noite (hoje, no sofá, a ver a têvê...), mastigando devagar, acompanhado dum calcezinho de wiske, ou melhor ainda, logo pela manhãzinha com um bom barranaço de medronho!
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Fotografia de figos lampos de F. Castelo
Fotografia de figos lampos de F. Castelo
Comentários
Grande post sobre os nossos figuinhos.
eu fui incapaz de dizer não!
eva não os comeu...
atão o coitado devia andar sempre imflamado, não? nas minhas aulas de História acho que me disseram que eles limpavam era o cú com as folhas da figueira. Também não acreditei, sobretudo com tantas pedras ali à volta (abundantes na região).
bem, com tanto figo á mistura isto é um post-laxante.
;p
coitos é dos que mais gosto
Não sou muito de fã de figos, já não posso dizer o mesmo do Figo jogador, risosss....
Quicas
grata pela inspiração
De facto os figos dessas figueiras nunca mais foram tão bons como antes...
Sabem dizer-me onde os adquirir?
Obrigada!
Tenho algumas fotografias identificadas pela respectiva variedade..
Precisava de alguma em especial ??
Francisco Martins