nem mestre/ nem aluno
CAPYTÃO RIJO
GRAÇAS A ELE NÃO COMETI PERJÚRIO
Não foi por um prato de lentilhas
como dizem os políticos, mas de feijão colonial com massa manga de capote.
Durante a mastigação industriaram-me
que só tinha que dizer sim ao que o filho ia dizer.
Senhor Capitão Rijo nós andávamos
a brincar às escondidas encostá-mo-nos à porta e esta carunchosa e gretada cedeu.
Assim poderia ter acontecido com
a maior parte das portas à volta, mas foi com um pontapé aplicado por ele, o
terror dos moços pequenos.
Senhor capitão ela não gosta de
nós porque lhe gritamos Aguardente! Aguardente! Anda sempre bêbada.
O Juiz do Tribunal de Menores,
olhou-o e ditou a sentença: vão-se lá embora portem-se bem e não quero voltar
a vê-los.
Como não me inquiriu não menti à
justiça. Tivera-lo feito teria eu mentido.
Depois disso, para sair ou
regressar a casa, sempre dei uma volta para não passar por lá. Mesmo quando já
adulto e que a ruína de telha-vã com outras gentes se tinha transformado num primeiro
andar.
Setenta anos depois o acaso trouxe-me
a oportunidade de colocar um objecto escultórico na Quinta do Capitão Rijo, em
Barão de São João.
A vítima ficou vítima. Aquele que
poderia ter evitado a injustiça, ficou-se no silêncio da cobardia infantojuvenil,
embrião das adulta e senil.
E agora penso noutro dedicado à velha,
de que nunca soube o nome.
Por expiação?
Até poderei acreditar na eternidade,
mas não acredito que esta própria tampouco, possua consciência do si-própria.
De nada vale pedir desculpas à mulher.
Só estarei a pedir desculpas a
mim próprio e isso só conta para este presente em que ainda me encontro.
Através de um objecto escultórico
e de outro (este) escrito fiquei a ganhar dois objectos.
A velha, essa, neste parcelar tempo
de memória que só existe por mim e pelo arrombador de porta à patada (será
ainda vivo?) ficará sempre a vítima.
Assim, fazer uma dedicatória à
vítima é acrescentar mais lucro à minha conta pessoal e fazer dela ainda mais
vítima.
E tresanda nauseabundantemente a
isso mesmo: impúdica autoflagelação com intuitos de extração de efeitos
estéticónanistas (suprema essência da arte).
foto inge wolff clic uma e duas vezes na foto para aumentar |
5ªfeira POÇAS
DE THEATRO descalce os sapatos
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