Golfe engole caminho


Desapareceu o acesso automóvel ao Rio de Alvor através da Meia Praia, engolido pelo campo de golfe Palmares. Lembram-se daquele caminho asfaltado, ao lado esquerdo da linha-férrea e que depois de a cruzar passava a terra batida, mas que permitia alcançar o Rio de Alvor a partir da Meia-Praia? Pois, já não existe. Agora só se acede ao Rio de Alvor passando pelo Odiáxere. E permanecerá algum acesso pedonal sem que seja o da linha de água? No mínimo respeitava-se um direito centenário, o da ligação que sempre existiu entre aquela margem da laguna e a cidade de Lagos.


«A ligação entre Lagos e Alvor era feita por um caminho, fronteira frágil entre o campo e o areal, tal como é assinalado num mapa de 1791, embora se lhe encontre referência muito antes, pois em 1451 D. Afonso V fez doação a Álvaro de Athaíde, entre outras benesses, da barca da passagem. Doação repetida, em 1676 por uma princesa D. Mariana, ao Duque de Cadaval (in Monografia de Alvor). Assim, se dá nota da importância do tráfego de pessoas e mercadorias que atravessavam o rio.»
in VASQUEZ, José Carlos – Contributos para as Memórias de Lagos, Grupo dos Amigos de Lagos, 2008


Comentários

Pergunto-me quem autoriza estes projectos e outros tantos como este... Entristece-me porque, cada vez mais, existe uma perda de identidade...
Porque não deixam a natureza em paz... deixem o rio fluir e a tradição sobreviver.

Abraço da vizinha da Praia do Vau.
éf disse…
O empreendimento dos Palmares tem o direito de desenvolver o seu campo de golfe, (embora seja discutível a ocupação do sistema dunar com um green – e esse será um aspecto para reflectir, nomeadamente acerca do tratamento diferenciado, dispensado pelas autoridades que tutelam o ambiente e a orla marítima deste país). No entanto, o problema que as recentes obras desenvolvidas naquela zona vêm colocar, é o que respeita ao desaparecimento da via pedonal, que o uso efectivo ao longo dos tempos não permitiria a sua eliminação. Presumo que este aspecto esteja salvaguardado pela Lei, e que o empreendedor a esteja a violar, mas quanto a isso apenas um jurista poderá confirmar.
Quanto ao desaparecimento da via alargada que permitia o trânsito automóvel, cruzando a linha de caminho-de-ferro e seguindo pela orla da laguna até à barreira artificial, criada para aceder ao molhe Oeste, esse será assunto mais complicado, pois o direito da propriedade privada poderá prevalecer sobre o dessa utilização pública mais recente – que não é um caminho municipal nem um acesso a qualquer propriedade enclausurada. Uma vez mais, remeto para um jurista a confirmação desta mera opinião.
Em todo o caso, parece-me que se vai, gradualmente, privatizando os espaços públicos que, por Lei, pertencem ao domínio público marítimo e ao domínio público ferroviário. E temo que esta dinâmica prossiga, e mais tarde aconteça o mesmo na zona balnear, isto é, no areal da Meia Praia; então retalhado e distribuído por hotéis e resorts, com acesso condicionado.
Não sou contra as mudanças mas sou contra as manigâncias.
francisco disse…
«Bem trago algumas informações que obtive de um dos técnicos superiores da coordenação das obras publicas na zona da meia praia.
O acesso manter-se-à com uma ciclo-via e via pedonal,de carro ter-se-à de ir à volta (vale da lama).
E sim,será para um campo de golf.
O muro ou parede a delimitar o areal tem como objectivo proteger uma passagem inferior (carro) à linha do comboio.
Este encerramento está descrito no projecto de Urbanização da Meia-Praia aprovado em concelho de ministros. Não haverá grande hipótese no cancelamento da obra.
Foi a informação que obtive...»


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Anónimo disse…
Sou do tempo em que os indios da meia-praia tinham como habitação uma cabana de junco.Sou do tempo em que se apelou a revolta da juventude dessa cidade quando os primeiros«camones»na praia da luz fizeram subir num mastro a bandeira inglesa.Olhem por favõr para os telhados das habitações que ajudei a construir e entendam o protesto.
Uma Socióloga disse…
Com o Plano Urbanização da Meia-Praia foram aprovados 8 hóteis de luxo (de 4 e 5 estrelas)... Com tanta estrela (eram suficientes as que se vislumbram no firmamento à noite)e tanto luxo será que não iremos "perder" o paraíso a que estavamos habituados? "Rezemos" para que tudo se proceda em harmonia (já nos basta o exemplo da Praia-da-Rocha de como não se deve fazer).
A estrada em curso (Lagos/Odiáxere) que nos parecia ser larga e espaçosa afinal está a revelar-se atrofiada (estreita e curvilínea) à excepção da reconstrução da rotunda (em frente ao antigo apeadeiro) que me aparece como que surgida de uma mente megalómana e que se encontra desadequada às ramificações que se lhe apensam e que, desnecessariamente, irá "engolir" mais algumas "fatias" de terreno aos proprietários que lá têm propriedades.
Sou completamente a favor do progresso/desenvolvimento mas sou contra os poderes que apenas olham para o seu umbigo sem analisar as consequências futuras e irremediáveis.

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