As Feiras


Feira, do latim feria, que significa dia santo ou feriado, atesta a relação da religião com estes espaços de comércio. Efectivamente, durante séculos, as festividades religiosas ajustaram-se às efemérides dos ciclos da Natureza e das colheitas agrícolas tirando partido do afluxo de gente aos locais de transacção dos produtos. Mas as feiras não começam com os romanos, existindo notícia da sua realização há cerca de 2500 anos, em Tiro (actual Líbano). Porém, é na Idade Média que as feiras conquistam a sua importância enquanto factor edificador das sociedades e das urbes, mormente pela sua função económica que reunia num dado espaço e num determinado momento produtores e consumidores, superando dessa forma a inexistência de comunicações rápidas e eficientes. Algumas feiras medievais, instaladas em entrepostos de rotas comerciais, chegaram a alcançar importância internacional. Toda essa actividade comercial promovida pelas feiras obrigou à utilização do dinheiro e da actividade banqueira e cambial, elementos essenciais às dinâmicas económicas e ao progresso das sociedades. Entre os privilégios que favoreceram o desenvolvimento das feiras medievais portuguesas há que mencionar os que isentavam os feirantes do pagamento de direitos fiscais (portagens e costumagens). As feiras que usufruíam desta regalia denominavam-se feiras francas. Em Lagos ocorriam duas grandes feiras, a de Agosto ou Feira de Nossa Senhora da Glória, em que se vendiam materiais ligados à actividade agrícola, nomeadamente à apanha do figo (esteiras, cestos, etc.), e a de Outubro ou Feira de Lagos, a mais antiga, periodicamente Franca, dedicada ao escoamento dos produtos do Verão e ao mercado de gado para a lavoura. Também expunha madeiras de Monchique, bem como frutos que não havia cá nesta altura do ano (ex: pêro, maçã). A sua importância maior residia, porém, no facto de funcionar como bolsa de cotação para os frutos secos – figo e amêndoa.
Ao contrário de muitas feiras francas criadas na Idade Média, a Feira Franca de Lagos foi instituída por deliberação camarária em 1931, com o objectivo de constituir uma nova feira anual de gado. Provavelmente o seu estabelecimento advém de imperativos de ordem exclusivamente comercial radicando em dificuldades de escoamento e abastecimento de produtos. Quase até ao final do século XX localizou-se no Rossio de S. João, tendo depois transitado para o terreiro junto ao Estádio Municipal, onde hoje se realiza. Actualmente, esta feira decorre de 22 a 24 de Novembro, verificando- se, por vezes, a abrangência do fim-de-semana mais próximo quando este não coincide com a data fixada. Ali se comercializam artigos diversos como vestuário, calçado e bijutarias, apresentando uma animação com vários divertimentos. Outras feiras anuais no município de Lagos: Bensafrim, 25 de Agosto; Odiáxere, 10 de Setembro; Espiche, 15 de Setembro; Almádena, 4 de Outubro.

Obras consultadas:
MARTINS, José António de Jesus, “A Feira Franca de Lagos” – Edição do autor, 1994
VASQUES, José Carlos, - depoimento oral, Lagos, 2009
RAU, Virgínia, “Feiras Medievais Portuguesas”, Editorial Presença, Lisboa 1982

Comentários

Bom post, amigo!
Passei para o ler, como sempre e para lhe deixar um abraco.
Francisco
Helena Teixeira disse…
Gosto de feiras.Só nao gosto quando há tanta gente que se acotovelam...ai perdem a piada.mas gosto de feiras.

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Jocas gordas
Lena

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