o centro - A cidade
carece de alma a minha cidade prostitui-se deu o centro do seu corpo por uns trocos nem sequer ao homem da merceeiria nem sequer ao carteiro nem ao homem do talho ou ao padeiro a esses, como até mesmo ao homem do supermercado a minha cidade escorraçou para longe afastou do seu centro os mais fervorosos os devotados amantes, ela perdeu-os todos escorraçou-os vendeu-se por uns trocos engalanou janelas, pintou entradas mas morreu por dentro já não se senta na soleira conversando já não assoma em janela em noite de levante a minha cidade tranca-se com medo de assaltante não tem criança correndo acima e abaixo não tem criança no seu coração a minha cidade e não tem riso que não seja de garrafa pela noite dentro, nas soleiras das portas nos peitoris das janelas encerradas na calçada de pedrinhas, renovada apenas garrafas abandonadas e ruídos cacofonias de palavras sem falas embebeda-se por um nada esta cidade não tem vivalma não tem gente que ao passar a conte que a envie a outros num sorris...