meninas?!

A senhora já de muita idade, foi-me contando :
- Eram duas mecinhas que teriam aí treze anos.
E a confirmar-se emendou:
- Sei lá se não teriam catorze...
E ainda, antes de me contar o caso, mas já depois de ter precisado o onde andava e a razão de estar naquele largo, atravessando, dizia -me:
- Tinha ido ao correio da Ameijeira e vinha descendo: ia mesmo a atravessar junto à rotunda, cá em baixo, apareceram duas moças a pedirem: dê-me um euro que a gente vai para o Sargaçal e na temes dinheire para a caminete
A contar-me, imitava o jeiito de falar da garota e dizia-me:
- Uma era branca e a outra era preta...

E eu que me surpreendo, mas apenas porque não sabia o que seria o desenrolar do que ela me contava e calei-me a ouvi-la:
- Abri o porta moedas e ...

aqui interrompi-a: se faz isso e um dia destes roubam-na, e no entanto, creio que nem ela me ouvia a falar em uníssono, que nem seria o roubo o importante.
- Perguntei-lhes: mas vocês vão daqui para tão longe, mesmo?
E diz que as duas meninas, a afastarem-se, desataram a gritar: olha a velha acreditou e mais alto ainda é mentira, repetido aos gritos e a rirem que a referida senhora diz que, sem ver vivalma no caminho, teve receio das moças que foi o termo que empregou:
- Quase que tive medo das moças a rirem e a gritarem daquele modo e sempre atrás de mim até à muralha.

A ouvir atenta, cuidei que tivesse terminado. Mas ela continuou contando.
- Atão não é que ontem...
e teriam passado uns dias de permeio
- ... ia eu chegando à biblioteca
e lá disse ao que ia naquele fim de tarde.
E foi contando que viu vir, a subir a rua da biblioteca, vinda do lado do hospital, uma criatura (o termo empregue foi mesmo este a referir-se a uma outra senhora assim para a mesma idade o que quererá dizer oitenta já muito passados) e dizia que a outra vinha  muito perturbada,  que lhe disse que ali, antes do hospital, duas moças...

E ela falando quase tal qual me contou :
- Fiquei sem pinga de sangue, que nem quis acreditar que eram as mesmas duas, uma preta e outra branca, a subirem a rua atrás da mulher : as mesmas moças do outro dia, e ficaram paradas, na maior desfaçatez, enquanto a senhora me contava que lhe atiraram uma pedra, que bateu aqui, e apontava o tornozelo, e que vieram a chamarem nomes malcriados, desde lá de baixo, e a dizerem se foges a gente ainda te joga mais.

e eu espantando-me e ela a continuar:

- Nem imaginas: a criatura estava mesmo assustada! Pudera! E as moças, encostadas na parede do outro lado da rua a rirem, e eu com um nervoso, que me apetecia era bater-lhes e ainda lhes falei: não têm vergonha?

Eu, que ouvia, pasmada de ser verdade e me estar a ser contado, devo ter exclamado alguma tonteira de que nem me lembro, e era já ela dizendo:

- Atão não é que, quando iamos entrando, uma delas se aproxima da porta da biblioteca e se chega mesmo em cima de mim, a dizer: sua puta não tens mais nada que fazer que me andares a seguir.
Sabes que tive vergonha?!

E terminava  o conto a deixar-me sem fala.



E eu que ouvi e me espanto, deixo o resgisto do que é verdade e se passou na nossa cidade com os nossos velhos que merecem respeito.
Que pensar disto? acaso? caso de polícia?
e se acontecer com quem, e seja eu o exemplo disso, sem pachorra para meninas malcriadas por aí à solta na cidade, lhes der um par de estalos?
ou será um caso de crianças  a precisarem de carinho?!...
alguém deve saber que acontecem casos destes e como os resolver
eu por mim conto e espero que seja apenas um caso isolado a ser sanado

Comentários

éf disse…
Sim, são crianças que precisam de carinho. Mas toda a gente sabe que o carinho sabe muito melhor e é mais eficiente depois de um bom par de estalos.

Mensagens populares deste blogue

Deodato Santos - Artista? Figurinista? Escultor?

Chamou-lhe um Figo